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Entrevista a Eduardo Jonas Gomes, coordenador da iniciativa Planta uma árvore, semeia a Geografia!

Plantação de árvores no Parque Natural de Sintra-Cascais

Entrevista a Eduardo Jonas Gomes, coordenador da iniciativa Planta uma árvore, semeia a Geografia!

Eduardo Jonas da Costa Gomes é geógrafo e investigador do Centro de Estudos Geográficos. É atualmente responsável pelo projeto “Territorial population imbalance in Mainland Portugal: understanding the past and the present to mitigate the territorial population imbalance in the future”, desenvolvido no âmbito do Emprego Científico Individual da FCT. Coordena ainda a iniciativa “Planta uma Árvore, Semeia a Geografia!”, projeto vencedor do orçamento participativo do CEG de 2021, que propõe a plantação de 1000 árvores autóctones pela comunidade CEG/IGOT.

P1. Como surgiu a ideia para o orçamento participativo, que alterações houve relativamente à proposta inicial e qual a sua visão para esta iniciativa?

A ideia para o orçamento participativo surgiu logo com um pressuposto que estabeleci de poder criar algo que pudesse envolver ativamente toda a comunidade do CEG/IGOT. Partindo deste pressuposto, surgiu-me a ideia de cada pessoa poder plantar uma árvore. Para além da contribuição que a plantação de árvores representa na melhoria da saúde e do bem-estar das populações locais e na diminuição dos gases responsáveis pelo efeito de estufa na atmosfera, a plantação de árvores permite reforçar o espírito de pertença de toda a comunidade do CEG/IGOT.

A iniciativa “Planta uma árvore, semeia a Geografia!” apresenta duas dimensões: uma primeira de plantação individual em que cada pessoa pode plantar uma árvore num espaço público ou privado, e uma segunda que passa por duas ações de plantação conjunta de árvores, com a comunidade do CEG/IGOT. Uma primeira ação decorreu no passado dia 14 de fevereiro de 2022 no Parque Natural de Sintra-Cascais e uma segunda ação ocorrerá no concelho de Palmela no dia 21 de março de 2022.

Inicialmente estava prevista a plantação de 350 árvores autóctones. No entanto, com o protocolo estabelecido com o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas foi possível aumentar o objetivo de plantação de árvores em Portugal para 1000 árvores autóctones. No final da iniciativa a localização e a espécie das árvores plantadas será divulgada através de um mapa web interativo.

Pretende-se que a iniciativa “Planta uma Árvore, Semeia a Geografia!” possa ter continuidade nos próximos anos.

P2. Pode explicar os principais objetivos do projeto Territorial population imbalance in Mainland Portugal? Quais são os impactos esperados?  

O projeto Territorial population imbalance in Mainland Portugal visa criar medidas para mitigar o desequilíbrio populacional e socioeconómico entre os territórios de alta e baixa densidade em Portugal Continental. Este projeto tem como objetivos específicos (i) desenvolver uma tipologia espacial para identificar os territórios de alta e baixa densidade em Portugal Continental  tendo por base um conjunto de indicadores multidimensionais; (ii) criar cenários futuros que permitam identificar forças motrizes que possam promover o crescimento demográfico e o desenvolvimento socioeconómico nos territórios de baixa densidade; e (iii) formular estratégias de planeamento que os decisores possam utilizar na criação de políticas que possibilitem mitigar as desigualdades territoriais entre os territórios de alta e baixa densidade.

Os resultados esperados, neste projeto, pretendem (i) contribuir, direta ou indiretamente, para um aumento da coesão territorial; (ii) aumentar a competitividade socioeconómica dos territórios de baixa densidade; e (iii) criar diretrizes que possam ser úteis aos decisores para uma melhor gestão do território.

P3. Pode contar-nos um pouco sobre a sua trajetória pessoal e o que a levou a escolher a Geografia e Planeamento como área de estudo e profissão?

A Geografia foi uma das minhas primeiras paixões. O gosto pelo conhecimento do território, pelas pessoas que nele vivem, e a curiosidade por perceber como se relacionam foi algo que sempre me fascinou e despertou a minha curiosidade. Isso reflete-se na minha paixão por conhecer novos lugares e pelas pessoas que neles habitam, tentando fazer, sempre que possível, a observação e interpretação dos novos lugares num passo lento porque, do meu ponto de vista, é deste modo que é possível da melhor forma, interpretar e entender cada lugar.

A ligação entre esta paixão e a escolha pelo curso de Geografia acabou por ser um percurso natural. Quando terminei a licenciatura em Geografia tive logo a oportunidade de ter a minha primeira experiência profissional na Universidade de León e mais tarde na Câmara Municipal de Vila do Bispo. No entanto, desde 2008 iniciei a minha atividade como investigador e felizmente tive sempre a possibilidade de trabalhar em projetos de investigação muito aliciantes. Foi aliás na sequência do último projeto em que estive envolvido como bolseiro de investigação, o projeto Agri-Met (Metropolitan Agriculture spatial MODeling) financiado pela FCT, que surgiu a oportunidade de iniciar o meu doutoramento em Geografia na Universidade Paris-Sorbonne em cotutela com a Universidade de Lisboa.

Desde que terminei o doutoramento realizei alguns projetos de consultoria e um pós-doutoramento na Universidade Mykolas Romeris. Em 2021, regressei ao CEG/IGOT primeiramente como Professor Auxiliar convidado e mais recentemente como investigador no âmbito do concurso Emprego Científico Individual da FCT, que me permite continuar a seguir a minha paixão.

P4. O que diria a um/a jovem que está a considerar seguir a área da Geografia ou Planeamento e Gestão do Território no ensino superior?

Diria que se o seu interesse passa pela compreensão da interação entre os elementos físicos e humanos do território a área da Geografia ou o Planeamento e Gestão do Território é com certeza a escolha certa. A formação ministrada nestas licenciaturas oferece um conhecimento avançado nesta área do saber. Este conhecimento transmitido pelos docentes e investigadores do CEG/IGOT, aliado à paixão e dedicação que cada estudante aplicar, fará certamente de si um/a bom/boa profissional e com excelentes hipóteses de saídas profissionais na área do planeamento urbano e regional, do turismo, das migrações, dos sistemas de informação geográfica, do ensino, dos riscos naturais, da biogeografia, ou da climatologia, apenas para enumerar algumas.

P5. Na sua opinião, qual a contribuição da Geografia e do Ordenamento do Território para a compreensão do mundo atual?

A Geografia e o Ordenamento do Território têm um papel fundamental na formulação de uma abordagem holística e aplicada que une as ciências sociais (Geografia Humana) e as ciências naturais (Geografia Física), permitindo uma compreensão objetiva e construtiva do mundo atual.

Esta compreensão, através de uma abordagem quantitativa e qualitativa, permite questionar e interpretar de diferentes formas as interligações, os padrões e as tendências de um problema específico que pode ser reconhecido espacial e temporalmente. A base desta interpretação está presente na Primeira Lei da Geografia proposta por Waldo Tobler (1970) que reconhece que “everything is related to everything else, but near things are more related than distant things”.

Passados mais de 50 anos desde a sua formulação, esta lei continua a ser o princípio basilar da investigação em Geografia, e assim tem permitido responder a problemas espaciais de uma forma eficaz a uma melhor compreensão das rápidas transformações do mundo atual traduzidas através de recomendações e estratégias políticas, planos de desenvolvimento socioeconómico ou planos de proteção ambiental.

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